
Ontem, quando o meu objectivo maior era curtir o sofá e deixar as horas passarem de modo a que não se desse por elas, e tendo em conta que a TV cabo ainda não faz parte das minhas opções de consumo, vi, creio que na SIC, o filme “Casanova”, que ainda não tinha visto. Bom? Nem por isso! Surpreendente? Também não. Fiel à realidade ou nem que fosse apenas à lenda? nem por sombras…
O filme relembra-me com tristeza a inevitabilidade de a nossa diversão mais light e despretensiosa, sobretudo a de cariz mais ou menos histórico ter de passar por Hollywood em especial e pelos americanos em geral. Imaginem a história de Casanova rodada em Bollywood… conseguem imaginar? A distorção é imensa, de ambas as formas, mas a Americana é mais perniciosa porque menos visível, menos óbvia…
A moral americana postula que Casanova, o homem que dorme com mil mulheres tenha que se regenerar e casar apenas com uma; tem que abandonar a vida que o tornou famoso e dar o seu lugar a outro. Poderão dizer que o outro não se regenera, mas é importante que o “regenerado” seja o actor principal, aquele com o qual o público criou empatia.
Por outro lado, temos uma mulher – a heroína – intelectual, inteligente, escritora e que luta pela “condição feminina”, sendo, assim, uma precursora até agora desconhecida, das feministas dos séculos XIX e XX. E é precisamente por esta mulher, que ao contrário das tais feministas, não é masculina nem masculinizada, que o personagem principal se apaixona! É preciso apontar mais incongruências?
Que diria o próprio Casanova se visse o filme? Provavelmente abanaria a cabeça, toda ela cheia de incompreensões.