segunda-feira, setembro 22, 2008

Casanova



Ontem, quando o meu objectivo maior era curtir o sofá e deixar as horas passarem de modo a que não se desse por elas, e tendo em conta que a TV cabo ainda não faz parte das minhas opções de consumo, vi, creio que na SIC, o filme “Casanova”, que ainda não tinha visto. Bom? Nem por isso! Surpreendente? Também não. Fiel à realidade ou nem que fosse apenas à lenda? nem por sombras…

O filme relembra-me com tristeza a inevitabilidade de a nossa diversão mais light e despretensiosa, sobretudo a de cariz mais ou menos histórico ter de passar por Hollywood em especial e pelos americanos em geral. Imaginem a história de Casanova rodada em Bollywood… conseguem imaginar? A distorção é imensa, de ambas as formas, mas a Americana é mais perniciosa porque menos visível, menos óbvia…

A moral americana postula que Casanova, o homem que dorme com mil mulheres tenha que se regenerar e casar apenas com uma; tem que abandonar a vida que o tornou famoso e dar o seu lugar a outro. Poderão dizer que o outro não se regenera, mas é importante que o “regenerado” seja o actor principal, aquele com o qual o público criou empatia.

Por outro lado, temos uma mulher – a heroína – intelectual, inteligente, escritora e que luta pela “condição feminina”, sendo, assim, uma precursora até agora desconhecida, das feministas dos séculos XIX e XX. E é precisamente por esta mulher, que ao contrário das tais feministas, não é masculina nem masculinizada, que o personagem principal se apaixona! É preciso apontar mais incongruências?

Que diria o próprio Casanova se visse o filme? Provavelmente abanaria a cabeça, toda ela cheia de incompreensões.

terça-feira, agosto 19, 2008

Retratos do fim do mundo


O Fim-do-mundo fica muito longe.
Muito longe da internet, do centro comercial Colombo, das decisões políticas e, basicamente, de tudo o que está no mapa.

Existe vida no fim-do-mundo, mas é uma vida estranha, ou que nos é estranha. Paisagens, modos de vida, ritmos, abundâncias e faltas que nos são alheias, que não entendemos.

Especialmente quando não estamos a passar férias em busca do weird para levar para a nossa confortável sala de estar, real ou apenas mental.

Muitas vezes, não há palavras para o fim do mundo - daí o silêncio prolongado deste blog. Outras, simplesmente não há internet, ou luz eléctrica.

quarta-feira, junho 25, 2008

sem título


O sofrimento aparece de muitas formas.


Aquele que mais me custa é aquele que me obriga a confrontar-me com as experiências de sofrimento passadas e me obriga a revivê-las.


Quando era mais nova, e quando tinha indigestões à noite, a forma de o corpo manifestar o seu mal estar era tornar qualquer sonho que tivesse num pesadelo insuportável. As imagens, aparentemente banais, repetiam-se até à exaustão, num caleidoscópio se possível labiríntico. Até que acordava e ia vomitar.


O sofrimento do confronto com o passado é um pouco assim. As experiências anteriores aparecem nos seus piores contornos. Ou não aparecem, mas a sua perversa lição e solução escondem-se sob uma nova capa, sob um novo problema, que interpretamos como fizemos outrora.


Gostava de ter soluções para evitar o sofrimento. Mas ele espreita, quando estou distraída. Será que toda uma vida pode existir, sem ele?

sexta-feira, junho 13, 2008

Pequeninas explicações e desculpas

Se no "pequeno mundo" há insónias de vez em quando, também há longas sestas, longas pausas, momentos em que não estamos nem aí, nem aqui!

São pausas, momentos em que a nossa cabeça swirls around outras coisas.

Talvez acorde em breve e volte com mais cidades, lugares e países estranhos.

(bocejo e longo espreguiçar de braços)

sábado, maio 03, 2008

sexta-feira, maio 02, 2008

Por aqui


Ambiente hostil aos "tugas", este aqui.
Bem, ninguém tem nada contra nós, na verdade, nem fui maltratada de nenhuma forma.
Mas a cor da pele denuncia-nos. Por mais simples que seja a roupa, por muito que faltem os acessórios, nunca escapamos ao veredito. A solução é tornar claro e límpido que nada portamos de valor. Mãos nos bolsos e olhar descontraído. Dá para dar a volta ao quarteirão. Não dá para longos passeios. Não dá para "conhecer a cidade". Não dá para fazer turismo, até porque isso é uma actividade que aqui não se pratica.
A minha vida é uma prisão onde as grades são a insegurança e a dependência de um carro e de um motorista que não são meus. De um horário que não controlo. De pessoas que acham que, desde que apareçam, as horas não interessam. Uma prisão feita de ausências. Ausência de taxis. Ausência de lugares para ir. Ausência de conterrâneos hospitaleiros. Ausência de dinheiro para os padrões locais... lol.
Depois, o prisioneiro pensa que até tem sorte. Afinal, não tem que se levantar às 4.30 da manhã para ir para o trabalho. Mora num lugar com luz e água canalizada. Tem um iogurte e sabe que é seguro comê-lo.
Estarei numa prisão ou numa redoma?

sexta-feira, abril 11, 2008

Crónicas do fim do mundo

Gostaria de ilustrar este meu post com imagens, mas, infelizmente, não posso fazê-lo, por isso escreverei agora e colocarei fotos depois.

O motivo porque não posso colocar fotos é porque nos computadores públicos desta cidade não é permitido colocar pen drives... e não admira... os computadores que conheço estão atolados em vírus. Logo aqui, o contacto com o mundo exterior já fica dificultado. Colocar internet no meu laptop, isso então é caríssimo e os pacotes de minutos são irrisórios, para o preço que custam.

De resto, vivo barricada na embaixada portuguesa. Só se pode sair a pé para andar pelo quarteirão. Qualquer percurso mais distante pode ser perigoso, se feito a pé, por isso mais vale não arriscar. Apesar de que, ao que consta, os ladrões terem aqui uma vida difícil: se apanhados a roubar, podem ser linchados pelos passantes ou abatidos pelos passantes armados.

Um quilo de uvas custa 16 euros. Um pacote de Tampax, 18! uma refeição média, 60€.

Os meus alunos não almoçam, porque estão demasiado longe para ir a casa e não têm dinheiro para almoçar no centro. O trânsito é caótico e nele se passam desesperantes horas.

Todos os portugueses que conheço odeiam viver aqui e apenas o fazem por não terem outro remédio ou simplesmente pelo dinheiro que estão a ganhar.

Enfim... posteriormente postarei alguma coisa menos informativa e mais irónica.