sexta-feira, janeiro 11, 2008

Sangue



Correm as mãos. Correm os cascos na areia recentemente alisada. Corre um fio vermelho.

Nas mãos umas unhas largas, tratadas, aparadas, pintadas de vermelho. Na areia, cascos cuidados trotam ao som da música. Ansiedade. Adrenalina. Uns olhos grandes olham a multidão febril e tentam entender o incompreensível.

As mãos olham para ti Devoram-te. Passam delicadamente pela tua pele e sentem. Sentem, correm, tocam, afagam. E, por fim, desejam-te.

A música toca. Cavalo e cavaleiro sentem-se em uníssono e ao som da música. O adversário espera. Teme. Aguarda no seu canto. Ninguém o preparou para isto e não sabe o que vai acontecer. Há uns panos vermelhos que esvoaçam e lhe ferem o olhar.

Como as unhas das mãos que percorrem o teu corpo nu. Mãos vermelhas, garras, ou simplesmente mãos carinhosas que tocam e querem o que tocam.

Prossegue a festa dos sentidos. Tourada. Jorra o sangue. Escorre um fio pelo dorso de músculo puro do touro negro. Escorre a seiva pelos corpos que fervem.

O touro de corpo de músculo puro sente-se cada vez mais fraco. Um líquido daquela cor perigosa escorre do seu dorso e ele vai sentindo o seu calor, enquanto corre. A ferida arde. A multidão grita. É o pesadelo. Depois, o fim.

As capas arrastam-se pela areia onde os pés já andam sem medo.
E num quarto fechado um homem contempla, sem ter palavras, as mãos com unhas pintadas de vermelho, de uma mulher.
“Agora és carne da minha carne e sangue do meu sangue”.

3 comentários:

Jo disse...

Fabuloso. Arrepiei. Ainda tenho o gosto a vermelho na boca.

Beijos, amiga.

Anônimo disse...

Thanks

Beijos

Abssinto disse...

Carnal (em carne mal passada, como eu gosto)

bj